O título que os organizadores deram à intervenção da oradora principal do «Ciclo de Conversas Lisboa Sustentável» foi, propositadamente, «desafiante» e «algo provocatório». Com a disponibilidade que se lhe reconhece, a bastonária da OCC respondeu afirmativamente ao repto e participou como convidada especial no evento organizado, na tarde de 26 de setembro, pela Plataforma Lisboa Sustentável Empresas (um projeto da Câmara Municipal de Lisboa - Direção Municipal de Economia e Inovação), que decorreu na Casa Jardim da Estrela, na capital.
«Os comportamentos têm vindo a mudar, mas a legislação é que obrigará à convergência de todos em questões de sustentabilidade. Para já, toda a cadeia económica está sob uma pressão enorme, com a exigência dos clientes e do próprio mercado», começou por referir Paula Franco. A responsável máxima da OCC acrescentou que «cada um de nós tem a responsabilidade social de entrar nesta transformação», mas reconheceu que há ainda muitos passos a percorrer.
A diretiva europeia de relato não financeiro só se aplica, para já, às grandes empresas – com o trabalho a estar a cargo dos revisores oficiais de contas – mas também chegará, inevitavelmente, às entidades de menor dimensão. «A falta de métricas é um obstáculo para a comparabilidade, aguardamos normativos e regras técnicas», disse. Sem se deter, Paula Franco advertiu que um relato não financeiro feito pelo órgão de gestão é «um risco para a falta de verdade.» E é para impedir situações destas que entra (ou espera-se que entre) o contabilista certificado, «como única forma de garantir a comparabilidade. O contabilista certificado ainda não aparece (para já) na legislação, mas como figura transversal às empresas, especialmente, as micro e pequenas, e visto que nenhuma delas tem ROC, é fundamental que seja chamado para este desafio», declarou. A bastonária foi ainda mais longe ao considerar que tanto o contabilista, como a sua ordem profissional, são pilares fundamentais para que a informação de sustentabilidade chegue a todos.
Para Paula Franco, é certo que no próximo ano haverá uma aposta muito forte por parte da Ordem em formação sobre este tema, cada vez mais decisivo para a vida dos cidadãos, das empresas e dos Estados.
Terminada a exposição chegou o momento para as perguntas de uma interessada e atenta plateia, que incluía representantes de associações, estudantes e, naturalmente, contabilistas certificados. Questionada se depois da «fuga ao fisco», podia existir… «fuga à sustentabilidade», a bastonária respondeu afirmativamente e enfatizou que o papel dos contabilistas é determinante para «evitar o falsear do relato não financeiro.» Pretende-se que a certificação por parte de um profissional habilitado seja sinónimo de «informação fiável, transparente e verdadeira.»
Em jeito de conclusão, Paula Franco partilhou uma mensagem especialmente dirigida a empresários e também a contabilistas certificados. «Vejo com agrado que os jovens estão mais sensíveis a estas matérias. Mas a partir da faixa etária dos 40, o caso muda de figura. Peço: não fujam a estes assuntos e vejam onde podem mudar no vosso dia a dia e nas vossas empresas. Este é um caminho urgente que precisa de ser alargado à generalidade dos empresários e da sociedade em geral.»