Ordem nos media
Sousa Franco critica «obsessão pelo défice»
5 November 2003
Ex-ministro das Finanças e actual presidente do Gabinete de Estudos da CTOC critica falta de consolidação orçamental
O ex-ministro das Finanças Sousa Franco garante que a obsessão do Governo pelo défice «pode dar cabo da economia» e acusou o Executivo de faltar à verdade em matéria orçamental. Críticas proferidas numa conferência promovida pelo grupo parlamentar do PS, na segunda-feira à noite, em Lisboa. Já em declarações aos jornalistas, Sousa Franco foi ainda mais claro, classificando a obsessão pelo défice como «um tumor». 

Para o ex-ministro das Finanças de António Guterres, o cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) tem resultado numa «trampolinice» das contas públicas: «Há cada vez mais situações de fantasia ao nível dos défices apurados.» Portugal não foge a esta situação - para Sousa Franco o défice real português situa-se, em 2003, nos 5%. Afirmando que «a jornada deste Governo já vai longa» e que «as suas políticas erradas irão cobrir mais de metade da actual legislatura», o professor universitário não poupou nas críticas. 

 «Não temos qualquer consolidação orçamental. O que temos é austeridade, sem haver redução da despesa primária, sem haver crescimento económico ou maior justiça social», afirmou, insurgindo-se contra «os cortes no investimento público». Sousa Franco deixou ainda um aviso: «Sem obsessão do défice é possível reduzi-lo. Com a obsessão do défice é possível dar cabo da economia.» As primeiras palavras do ex-ministro foram, no entanto, para Ferro Rodrigues. Logo na abertura da intervenção, o professor universitário afirmou que o líder do PS está a ser vítima do ataque político «mais baixo» desde o 25 de Abril. Uma afirmação que mereceu uma prolongada salva de palmas da assistência. Já Ferro Rodrigues, que abriu a conferência, não fez referências à situação interna do partido, evocando apenas «as circunstâncias difíceis» em que assumiu a liderança.