«... a teoria sem a prática é utopia,
que a prática sem a teoria é rotina».
Na primeira parte do tema em epígrafe, publicada na Vida Económica de 2004.03.05, apresentámos uma frase em frontispício que vai no mesmo sentido da em epígrafe da autoria de F. Caetano Dias, em editorial da Revista Contabilidade e Comércio n.º 1, de Janeiro/Março, 1933.
Na oportunidade apelámos a alguns aspectos do ensino da contabilidade nas instituições do Ensino Superior e baseamo-nos na entrevista que o Professor Doutor Camilo Cimourdain de Oliveira concedeu à Revista TOC da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (n.º 46 de Janeiro de 2004), na qual teceu algumas críticas ao estado actual do ensino da Contabilidade nas instituições do Ensino Superior em Portugal.
A este propósito, salientamos uma outra frase do distinto Professor referida naquela publicação: «Deveria ensinar-se a teoria da Contabilidade como se ensinava antes de se passar a ensinar, mesmo nas universidades, a utilização do POC. Isso está muito bem para as aulas práticas, mas não é o mais correcto para dar formação teórica em Contabilidade aos estudantes».
É óbvio que esta questão da teoria e prática contabilísticas tem que se enquadrar na estrutura actual do ensino superior da Contabilidade.
Por outro lado, não podemos ignorar que, em muitos cursos superiores onde se lecciona a Contabilidade, esta é meramente instrumental. É o que acontece, nomeadamente, nos Cursos de Gestão, de Administração, de Economia, alguns de Direito e, até, nos de Engenharia. Nestes cursos é mais importante ensinar a teoria ou a prática contabilística? Ou seja, nos cursos em que a Contabilidade é mais uma disciplina de apoio ou instrumental, como tantas outras, não deverá ensinar-se, prioritariamente, a prática contabilística, sem, contudo, deixar de efectuar breves referências teóricas?
Por outro lado, nos cursos superiores em que a Contabilidade constitui formação base (v.g. licenciaturas em Contabilidade, cursos dos Institutos Superiores de Contabilidade e Administração), é obvio que a teoria contabilística deverá assumir um papel fundamental. E quando falamos em teoria contabilística é evidente que é importante a sua ligação à História da Contabilidade. Sabemos que alguns desses cursos têm tido essa preocupação, pois tem havido, efectivamente, alguma evolução no ensino da teoria e da História da Contabilidade.
Mas um facto que o Prof. Cimourdain de Oliveira abordou, também, na referida entrevista, diz respeito ao escasso número de doutores na área da Contabilidade. Basta referir que, até 1988, existiam sete doutorados com teses na área da contabilidade, mas nenhum deles é doutorado especificamente em Contabilidade, mas em áreas como a Economia, a Gestão e as Finanças, i.e., a Contabilidade não assume autonomia científica.
Porém, na última década do século passado, começaram a surgir alguns novos doutores associados à área de investigação de Contabilidade (temos conhecimento de mais seis doutoramentos).
Paralelamente, esse período foi também muito importante no início do desenvolvimento de cerca de dez mestrados em Contabilidade, embora com ligações a outras áreas científicas (v.g. auditoria, administração, finanças, fiscalidade), mas desatacando sempre a Contabilidade, alguns dos quais integrando mesmo disciplinas de Teoria da Contabilidade e de História da Contabilidade (v.g. Mestrado em Contabilidade e Auditoria da Universidade do Minho).
Ora, tais factos constituem indicadores extremamente positivos no desenvolvimento da teoria da Contabilidade visando uma melhor prática contabilística.
Finalmente, destacamos a frase de F. Caetano Dias (in editorial sob o título «Palavras Iniciais» da Revista de Comércio e Contabilidade, n.º 1, de Janeiro/Junho de 1926):
«Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática deve obedecer a uma teoria. Só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando a que a teoria não é senão uma teoria da prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria...».