O «Plano Tecnológico» (PT), designado de «Choque Tecnológico» durante a campanha eleitoral, é uma das principais bandeiras do actual Governo.
Assim, depois de um «Choque Fiscal» incompleto e de uma proposta por parte do PSD de um «Choque de Gestão», apareceu a ideia do PS de um «Choque Tecnológico». Talvez as duas ideias/forças destes choques possam congregar-se numa outra a que chamaremos de «Choque Tecnológico e de Gestão».
A «confiança» foi «vendida», e continua a ser, pelo PS na última campanha eleitoral, ao ponto de constituir a «palavra-chave» que envolveu a sala onde o Primeiro Ministro, Eng.º José Socrates, proferiu o seu discurso de vitória eleitoral.
Na verdade, opinamos que é necessário ter confiança na confiança, pois o estado de espírito dos portugueses está muito em baixo, ao ponto de podermos dizer, numa linguagem «de choques», que o ¿Choque (Plano) Tecnológico¿ deverá ser precedido de um «Choque Psicológico», a fim de aumentar a nossa auto-estima.
Esperamos que, neste capítulo, o actual Governo não enverede por um discurso negativo como o famoso «discurso da tanga». Parece-nos que os primeiros passos apontam nesse sentido.
Com efeito, o próprio programa do Governo alia a confiança ao PT ao elencá-los como dois (em cinco) dos principais vectores estratégicos mobilizadores para mudar Portugal, estabelecendo:
¿ Recuperar confiança e mobilizar a capacidade dos portugueses para enfrentar dificuldades e rasgar novas fronteiras;
¿ Lançar um ambicioso Plano Tecnológico, convocando o País para a sociedade da informação, para a inovação, para a ciência e a tecnologia, e para a qualificação dos recursos humanos.
Como é referido no programa do Governo, o investimento português em Investigação e Desenvolvimento (I&D), em percentagem do PIB, é menos de metade (0,8%) da média europeia (1,9%) e o número de investigadores em Portugal representa pouco mais de metade da média europeia, em permilagem da população activa (3,4 contra 5,5).
É, neste contexto, que utilizamos o título em epígrafe, pois caso não seja gerado um ambiente de confiança no PT, e, de uma forma geral, relativamente à política governamental, mais ainda nos distanciaremos dos nossos parceiros comunitários e correremos o risco de se falar de um «choque de confiança».
A este propósito, julgamos interessante ainda destacar o artigo de Alexandre Bordalo, intitulado «Tsunami» (revista Executive Digest de Março de 2005, pp. 14-5), do qual transcrevemos a seguinte frase:
«Promover a produtividade, a inovação, a competitividade, etc., são expressões que estão na moda mas que necessitam de ser implementadas. É necessário determinação política, convicção e coragem. Não é suficiente dizer que uma economia tem de ser competitiva ou uma empresa inovadora. É preciso compreender como. E o como envolve o caso de Portugal, que não é um choque mas um tsunami que vai derrubar muitas das estruturas rígidas que existem no mercado e no sector público. Criar uma nova estrutura, um Parque das Nações para a economia e o tecido empresarial.»
Assim, parece que necessitamos de um «Tsunami Tecnológico» e não de um «Choque Tecnológico».
Esperamos, contudo, que não se perca o fôlego eleitoral e se desenvolvam, efectivamente, as medidas necessárias à implementação do PT.
De qualquer forma, registamos, desde já, que o Governo deu um passo importante na concretização do PT ao considerar a palavra «inovação» como a chave da competitividade da economia e dignificando-a através da sua inclusão num dos Ministérios mais importantes ¿ o Ministério da Economia e da Inovação.
Não podemos esquecer que «o pai (agora «avô») da gestão», Peter Drucker, considera a inovação como um os princípios básicos e fundamentais da gestão.
Mas, neste breve apontamento, pretendemos chamar também à colação uma das realidades de I&D que temos conhecimento na nossa actividade profissional ¿ os Centros Tecnológicos (CT).
Os CT têm mantido a sua actividade com base em projectos financiados pelos fundos comunitários, cada vez mais exíguos, o que exigirá um estudo aprofundado sobre o seu papel futuro na onda da inovação tecnológica que se pretende alcançar.
Na verdade, os CT têm funcionado com uma estrutura administrativa e técnica flexível e cada vez mais reduzida, assistindo-se a um aumento da subcontratação em prejuízo dos respectivos quadros de pessoal.
Neste contexto, há que realizar um balanço geral dos CT e as perspectivas futuras de desenvolvimento, com ou sem PT, e no quadro de financiamento da UE, respondendo, entre outras, às seguintes questões:
- Será que os CT conseguem viver sem os fundos comunitários? Ou seja, qual o grau de (in)dependência dos CT dos fundos comunitários?
- Quais as perspectivas e projectos futuros do PT que podem (devem) ser alocados aos CT?
- Qual o historial e interligação dos CT ao meio envolvente, nomeadamente o empresarial e o universitário? Quais as perspectivas futuras de tal ligação?
- Em que medida os CT poderão (deverão) constituir um pilar importante no PT e no investimento em I&D?
Esperamos que o PT possa contribuir para um novo fôlego, tão necessário, dos CT, pelo que urge definir uma política geral de revitalização, e até mesmo de reestruturação, dos CT que deverá contar com a participação activa dos respectivos órgãos de gestão.
Enfim, com este breve comentário pretendemos dar um ligeiro contributo para que tenhamos confiança no PT e nos CT.