No dia 12 de Maio, da parte da tarde, o praticamente preenchido auditório B2 do Edifício do Complexo Pedagógico do Campus de Gualtar da Universidade do Minho, recebeu a segunda conferência do dia na «cidade dos arcebispos».
Domingos Cravo, representante português na Comissão de Normalização da União Europeia e professor no ISCA de Aveiro, começou por referir que «é cómodo que as normas sejam globais, especialmente para as multinacionais». O professor universitário, que também integra o Gabinete de Estudos da CTOC, afiançou que «a nossa cultura contabilística é distinta de todas as outras, o que tem consequências na aplicação. O ambiente fiscal e contabilístico de cada País devia prevalecer, mas a globalização está ai, imparável». Contudo, ressalva, Domingos Cravo, «devemos, enquanto cidadãos, argumentar e discutir as decisões dos políticos, se acharmos que as normas não servem». Cravo defendeu que a entrada em vigor do SNC deve acontecer em 2009 e não em 2010, tendo alegado que o facto de no próximo ano haver eleições pode ter pesado nessa decisão política.
Lopes de Sá, o «pai» do movimento Neo-Patrimonialista, teoria que o criador acredita poder ser o futuro fruto da sua metodologia e que conta com mais de meio milhão de seguidores, em todo o mundo, voltou a assestar baterias nas NIC. «Desde os anos 60 que faço estudos sobre normalização. Não estou contra a organização de ideias, o pior é que as normas viraram objectos de fraude, fabricadas para iludir. Com estas normas, desprovidas de ciência, não se resolvem os problemas das empresas». Fazendo uso da sua habitual boa disposição, o catedrático brasileiro comparou as leis ditadas pela IASB à infalibilidade atribuída às encíclicas papais. «A estes senhores não interessa a verdade, só interessa gerar o lucro e o prejuízo, em função das conveniências», declarou o especialista brasileiro.
Lopes de Sá definiu a situação actual como um combate entre latinos e anglo-saxónicos, que estes últimos estão a levar a melhor, mas não desarma: «os latinos e a sua intelectualidade, não se devem submeter a ninguém. Temos condições para reagir». O contador brasileiro deu o exemplo espanhol, País onde recentemente foi alvo de veto a 37.ª norma.
Sobre os Técnicos Oficiais de Contas, Lopes de Sá defendeu que estes profissionais «têm mais responsabilidades que os economistas, na medida em que podem levar as empresas à prosperidade ou à decadência em função dos modelos científicos».
Joaquim Cunha Guimarães, presidente do Conselho Fiscal da CTOC, admitiu problemas na normalização, mas reconhece que se «trata de um processo em que não podemos ficar para trás, independentemente do fair value, das NIC, etc».
Para finalizar a conferência de Braga, Domingues de Azevedo deixou alguns pontos de reflexão para os TOC: «Quem paga os milhões de euros gastos neste processo de normalização? Quem paga, quer receber contrapartidas, ou seja, favores. E essa cadeia de interesses pode desvirtuar a Contabilidade», admitiu o presidente da Câmara. «Se a Contabilidade se comportar como uma ciência ficará imune, mas se não o conseguir, ficará à mercê do grande capital e os princípios variarão em função dos interesses que lhes estão subjacentes». Domingues de Azevedo acrescentou que «existe o risco de a Contabilidade poder ficar longe das mãos dos profissionais», como tal, «é preciso despertar consciências, enquanto é tempo». «Estas conferências são francamente úteis para esclarecer os TOC sobre matérias cruciais para o futuro da profissão que exercem», concluiu.