Ordem nos media
Daniel Bessa acredita que a retoma efectiva da economia já está em curso
19 Fevereiro 2004
«Espanha dá sinais preocupantes»- alertou economista, durante o debate que a CTOC realizou no Porto
Daniel Bessa considera que há sinais de que a economia portuguesa está a «inverter o período de recessão dura e prolongada» e estimou para 2004 um crescimento abaixo de 1%, o ponto médio das previsões do Governo. Durante um encontro promovido pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), no Porto, o ex-ministro da Economia afirmou que a conjuntura comunitária está a acompanhar a retoma já registada nos Estados Unidos, ainda que com «taxas de crescimento mais modestas». 

«Habitualmente, o mercado de capitais não ilude. Para além disso, os EUA vão registar um crescimento de 5% ao ano», sublinhou. Para Daniel Bessa, a convergência da economia portuguesa com a média europeia nos anos 90 «não foi sustentada», ora pelo endividamento excessivo, fomentado pela baixa das taxas de juro, ora pelo esquema de retribuição e alargamento dos quadros da função pública. «Quando a convergência se tenta fazer com um consumo desenfreado, paga-se a factura». 

Em termos sectoriais, o responsável pelo Programa de Recuperação de Áreas de Sectores Deprimidos (PRASD) não tem dúvidas que os 12% da população activa empregue na construção e obras públicas representam «valores sobredimensionados e o dobro que deveriam registar», enquanto o sector de mão-de-obra intensiva da área têxtil deverá sofrer com a liberalização do comércio a 1 de Janeiro do próximo ano, fundamentalmente por força de países asiáticos como o Bangladesh e o Vietname, e não tanto pela concorrência dos países do Leste europeu. Daniel Bessa prevê, como base nos indícios disponíveis, que a Espanha possa entrar «num processo de contra-ciclo económico», depois de atravessar o período de recessão mundial com «níveis de crescimento anuais de 2%». 

Um sinal preocupante para a economia portuguesa por se tratar do seu principal mercado. Interrogado sobre a questão da regionalização, o economista garante que se revê na posição descentralizadora de Miguel Cadilhe e acha vantajoso que o tema regresse à discussão pública. Já a tese do fortalecimento económico de Lisboa defendida anteontem pelo também ex-ministro da Economia do governo socialista Augusto Mateus, é «boa, mas difícil de compreender». Fernando Pacheco, vice-reitor da Universidade Católica, corroborou as previsões de Bessa e acrescentou que «a economia nacional tem tido nos últimos anos um crescimento notável», embora reconheça que «em situações de conjuntura desfavorável, a nossa economia ressente-se mais».