A provedora dos destinatários dos serviços, que já foi anteriormente entrevistada para esta revista, integra o CS por inerência, não tendo, contudo, direito a voto. Como tem sido a articulação com Joana Barata Lopes?
Somos todos órgãos sociais, mas a provedora tem como característica particular estar mais próxima de nós por pertencer, por inerência, ao CS. Aliás, faz todo o sentido que ela esteja integrada neste órgão. Ao inserir a figura do provedor dos destinatários dos serviços na orgânica das ordens, o legislador pretendeu que as instituições fossem mais abertas, mais independentes, mais transparentes e mais ligadas à defesa dos interesses dos que usam os serviços dos membros da instituição. Sendo o provedor um órgão que recebe as queixas dos utilizadores, faz sentido que os temas sobre que incidem sejam do conhecimento do CS, de forma a poder melhorar práticas e procedimentos. É um conhecimento fundamental para melhorar a nossa própria competência de fiscalização, permitindo-nos dar nota e alertar para os necessários aperfeiçoamentos em áreas concretas da instituição.
Como presidente deste órgão fiscalizador, pode garantir que, diariamente, a missão de serviço e interesse público, o core da instituição, está salvaguardada?
Completamente. Digo-o de forma perentória e a atividade diária da Ordem, por ter o serviço público subjacente, é disso demonstrativa, tanto em prol dos membros, como, cada vez mais, em prol da sociedade. A título de exemplo, destacaria o seguinte: a capacidade de definir normas e regulamentos, a formação profissional – muito relevante para a melhoria das capacidades técnicas dos profissionais –, a informação diária (via site, newsletters e redes sociais), as reuniões livres online e presenciais, sempre a par e passo com as novidades que, inclusive, já se tornaram uma referência para outras profissões, a multiplicidade de manuais, o apoio do consultório técnico e jurídico, a resolução de conflitos através da mediação e o trabalho da provedora dos destinatários dos serviços. Estes são apenas alguns exemplos, para não ser exaustiva.
Acompanhar regularmente a atividade formativa da Ordem, em especial a realização dos estágios de acesso à profissão, que é outra das competências do CS. A diversidade do leque formativo para candidatos e novos membros corresponde às necessidades de uma profissão em permanente reciclagem?
Sobre isso não tenho qualquer dúvida. Como disse anteriormente, no período em que fui formadora da instituição, tive o pleno conhecimento dessa diversidade formativa. Se olhar para o plano anual de formação, gizado para responder às mais diversas e abrangentes necessidades dos membros, verá que é parte da missão do interesse público da instituição por dar aos seus membros as ferramentas que lhes permita estarem melhor capacitados para o exercício das suas funções. A formação que a Ordem disponibiliza e ministra tem duas características únicas: a sua permanente atualização à realidade – não é por acaso que já está ao dispor dos contabilistas certificados uma formação sobre o ChatGPT; e, não menos importante, o facto de ser adaptativa, podendo ser frequentada por via online (nomeadamente através da plataforma CCClix) ou presencial, ficando essa escolha a cargo dos membros. Para os candidatos que ambicionam chegar a esta casa foi feito, do ponto de vista formativo, um enorme esforço para ministrar formação específica direcionada para os exames de admissão que têm de fazer e que são necessariamente desafiadores. Para o efeito, houve a necessidade de acomodar os milhares de candidatos em dezenas de turmas, disponibilizando-lhes manuais digitais. Isto corresponde a um esforço e a uma mobilização dos recursos internos da instituição que, estou em crer, acaba por responder de forma inequívoca à questão que me formulou.
A isenção de taxas na inscrição à Ordem foi um fator importante na massiva adesão de candidatos tendo, até à data, mais de cinco mil prestado provas, tendo em vista a admissão. Sendo esta uma competência do CS, admite que possa vir a ser prolongada?
A gratuitidade recomendada pelo CS em julho foi um fator importante, mas não foi apenas isso que levou a que mais de cinco mil candidatos tivessem manifestado interesse em ser membros desta Ordem, sendo que mais de três mil já são membros de pleno direito. Explico: a formação para os três modelos correspondeu aos interesses das pessoas. Tratou-se de uma valência positiva para atrair mais candidatos. Na reunião do CS do passado dia 22 de abril foi deliberado fazer nova recomendação à Ordem no sentido de prolongar esta isenção e gratuitidade das taxas, pelo menos durante esta terceira fase que vai iniciar-se. Caberá agora ao CD decidir se opta por esta recomendação e, se for o caso, anunciá-la formalmente.
Atrair e reter talento é, nos dias que correm, uma preocupação central de qualquer profissão. Considera que esta atividade é apetecível para um número crescente de jovens?
Não conheço outra ordem que após a alteração dos estatutos tenha registado tantas candidaturas. Alguns dos motivos podem estar na resposta anterior, mas estou em crer que nos últimos anos a sociedade, de uma forma geral, tem-se aberto, cada vez mais, para estas temática da fiscalidade e da contabilidade. Por isso, acho que a Ordem vai também beneficiar com esta conjuntura retendo e atraindo talento de membros cada vez mais jovens. Recentemente, participei em algumas cerimónias de entrega de certificados e eram, quase todos, muito, muito jovens. Vi o brilho nos olhos e a emoção estampada nos seus rostos, orgulhosos de terem alcançado esta nova etapa do seu crescimento pessoal e profissional.
Tendo em conta a rápida e vertiginosa evolução tecnológica, consegue antever o que será o contabilista certificado dentro de uma década?
A evolução vertiginosa à boleia do digital e mais recentemente da Inteligência Artificial faz com que não devemos ousar prever o futuro. Mas há uma coisa que tenho a certeza: os contabilistas certificados vão continuar a escrever a história das empresas – que é uma frase que a bastonária costuma referir com frequência nas suas intervenções públicas. E a partir dessa história perceber as fraquezas, as ameaças e as oportunidades que se deparam às empresas. O tempo só vai reforçar a parceria, que já vai existindo, entre contabilistas e empresários. A sua inigualável capacidade técnica vai fazer com que os empresários não prescindam deste papel de consultores diários dos seus negócios, numa lógica de proximidade e entrosamento.
Entrevista Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise