*As cerimónias fúnebres de António Domingues de Azevedo realizam-se no dia 12 de setembro, a partir das 18h30, na Igreja de Fradelos, em Vila Nova de Famalicão.
Comunicação do Presidente da Mesa da Assembleia Geral
Faleceu hoje o Bastonário da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) António Domingues de Azevedo.
Ao cumprir este doloroso dever de informar todos os colegas, todos os amigos e o público em geral, quero recordar o Grande Homem, que sonhou e concretizou uma Obra que perdurará para lá de si próprio e que todos seguramente iremos defender e desenvolver.
Pessoalmente, perdi um inesquecível amigo e companheiro com quem convivi ao longo dos últimos 35 anos e junto de quem passei momentos de profunda realização pessoal.
A nossa Instituição (OCC) foi criada há 20 anos e desde o seu nascimento não parou de crescer e de se desenvolver, sob a condução e a dinâmica do António Domingues de Azevedo.
Enquanto Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ordem, quero garantir a todos que continuaremos a desempenhar a nossa missão, de harmonia com o legado que o líder e fundador nos deixou. Sem desvios e sem hesitações, pois essa será a formar de homenagearmos a sua Memória e defendermos o que construiu com profissionalismo, amor e dedicação.
A todos os membros da OCC deixo uma palavra de conforto e à família, em especial esposa e filho (de quem tenho orgulho em ser amigo) as minhas sinceras condolências.
Lisboa, 11 de setembro de 2016
Manuel dos Santos
Presidente da Mesa da Assembleia Geral da OCC
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NOTA BIOGRÁFICA
António Domingues de Azevedo nasceu em 1950, em Fradelos, Vila Nova de Famalicão.
Liderava há 20 anos os destinos da entidade reguladora da profissão de TOC, primeiro presidindo à ATOC, depois à CTOC, à OTOC e finalmente à OCC.
Foi deputado do Partido Socialista à Assembleia da República durante três mandatos, integrando sempre a Comissão Parlamentar de Economia e Finanças.
Foi o autor do projeto-lei que regulamentou a profissão de Técnico Oficial de Contas.
Foi vice-presidente e presidente da comissão instaladora da associação dos técnicos oficiais de contas.
Foi Presidente da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), de 1999 a 2009.
Em Março de 2010 tornou-se o primeiro bastonário da história da instituição.
Presidente do CILEA (organização internacional de contabilistas) desde 2015, tendo ocupado uma vice-presidência desde 2007.
Em 2011 é agraciado com o título de especialista honoris causa pelo Instituto Politécnico de Lisboa.
Lisboa, 11 de setembro de 2016
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TESTEMUNHOS
Em homenagem ao nosso bastonário Domingues de Azevedo
"A única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz” (Steve Jobs)
Quando olhamos o passado fica-nos a estranha sensação que o tempo passou por nós, melhor, passamos pelo tempo e não tivemos tempo para deixar um rasto que nos possa marcar no futuro, como sinal que deixamos obra que será usufruída por todos aqueles que nos vão suceder.
Mas, se podemos assim pensar, pessoas existiram que nos mostraram, pela prática, o inverso da análise.
Refiro-me ao nosso saudoso amigo, bastonário Domingues de Azevedo que sempre lutou pelos seus ideais, pelos seus sonhos – sempre ambiciosos – por um futuro melhor para a profissão, em tudo se empenhando desprendidamente, quantas das vezes com elevado sacrifício pessoal e familiar.
Nem sempre foi compreendido, quem sabe, pela sua singela mas dura maneira de intervir, de defender as suas causas, de sonhar alto…
Tive a felicidade de estar a seu lado durante 20 anos, de acompanhar e cultivar seus pensamentos, de incentivar os seus sonhos, de participar na sua caminhada, embora por vezes tentando que ele desviasse o trilho, mas sempre encontrando um grande entusiasmo nas suas decisões.
Grato me sinto pela sua atenção especial sempre que a consciência me aconselhava uma particular chamada de atenção, embora, muitas das vezes, arquivando a ideia mas sempre a aceitando democraticamente.
A profissão muito deve aquele que dedicou mais de duas décadas à nossa causa, removendo montanhas para que a profissão de contabilista certificado encontrasse o seu lugar na história das profissões reconhecidas de interesse público.
Óbvio que um só homem não faz a história, mas foi toda uma equipa por si sabiamente conduzida que conseguiu que a Ordem dos Contabilistas Certificados se afirmasse na sociedade civil, politica e pública e também além fronteiras, onde a imagem da OCC é hoje vista como uma instituição de renome internacional.
O António Domingues de Azevedo não será jamais esquecido por toda uma profissão que muito lhe deve, embora reconhecendo que os atos praticados sob sua orientação nem sempre – como não podia deixar de ser – agradam a todos os colegas, fruto do ambiente democrático em que nos inserimos.
Se alguém existe que amou a obra que produziu, dúvidas não restam que o excelente trabalho do Domingues de Azevedo o acompanhará na eternidade como motivo de orgulho daquilo que marcou a sua vida.
A nós, enquanto membros da Ordem, resta deixar um agradecimento mui grande aquele que foi o nosso mestre na entusiástica passagem que fez na nossa companhia.
São homens com este carisma e sabedoria que nos devem servir de exemplo para lutarmos por uma profissão melhor e mais solidária.
Um doloroso até sempre, meu caro Domingues Azevedo.
Armando P Marques
Membro nº 28
António Domingues de Azevedo - Adeus, até amanhã
Era assim que nos despedíamos, todos os dias, quando, depois de mais uma jornada de intenso trabalho, saíamos da então ATOC, na Rua Nova do Almada, passávamos pelo Rossio e caminhávamos até ao topo da avenida da Liberdade, rumo ao Marquês do Pombal, onde se situava o hotel onde pernoitávamos.
Já se passaram 20 anos e parece-me que ainda foi ontem.
Ao longo desse extenso trajeto passávamos em revista o que tinha sido o dia de trabalho e, principalmente, o DOMINGUES AZEVEDO (sempre assim o tratei, embora com todo o respeito), me falava do amanhã, sempre com ideias brilhantes, algumas das quais de difícil concretização, mas que, afinal, eram atingidas.
Ele sempre foi assim: Tinha um vontade enorme de vencer, fazendo as coisas no tempo exato, chegando sempre a bom porto.
Já o conhecia desde 1994 quando teve os primeiros contactos com a extinta Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, onde foi eleito Presidente da Direção em outubro desse ano (eu era o Vice-Presidente).
Pode ler-se no relatório da Direção de 1994 daquela associação que "o então deputado Domingues Azevedo, que na Assembleia da República vinha já desenvolvendo uma importante ação no domínio da regulamentação da profissão, tendo mesmo apresentado o seu projeto de Estatuto que teria avançado caso o Governo não tomasse a iniciativa neste domínio”.
De facto, a enorme energia e superior capacidades de Domingues Azevedo contribuíram decididamente para que o Estatuto dos Técnicos Oficias de Contas viesse, finalmente, a ser aprovado, com a consequente tomada de posse da Comissão Instaladora (de que Domingues Azevedo foi o primeiro Presidente). Posse dada pelo então Ministro das Finanças António de Sousa Franco, em sessão solene realizada em 15 de julho de 1996.
E desde logo começou uma das grandes batalhas do Presidente António Domingues de Azevedo: Mudar o nome de ATOC (que foi "inventado” pelo Governo de então) para Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas.
Conseguido esse objetivo, partiu para outra luta: Transformar a Câmara em ORDEM.
Foram 20 anos de luta (muitas das vezes prejudicada por intuitos escondidos), mas, finalmente, a vitória foi alcançada.
Somos a Ordem dos Contabilistas Certificados (não há curso para Técnicos de Contas, mas sim para Contabilistas).
Não tenho a menor dúvida que essa grande vitória se fica a dever a António Domingues de Azevedo.
Mas a luta desse GRANDE HOMEM levou a associação publica dum balanço total de 555.133 euros e 19 trabalhadores (em 31/12/1996) para um balanço de 27.913.714 euros e 136 trabalhadores (em 31/12/2015). Quer dizer: Em 19 anos o balanço aumentou 50 vezes, enquanto o número de trabalhadores aumentou apenas sete vezes!
De esforço em esforço Domingues Azevedo levou a sede da Ordem da Rua Nova do Almada (que nada tinha de nova, pois estava destruída pelo incêndio do Chiado…) até à sua atual sede na Avenida Barbosa du Bocage – uma das maiores sedes de todas as ordens existentes (senão, a maior).
Tenho bem presente na minha memória uma máxima que Domingues Azevedo nos deixou aquando da inauguração da Casa do Contabilista, no Porto: ”É preciso construir, arriscar, tomar decisões.”.
Bem se pode afirmar, categoricamente, que Domingues Azevedo teve ao longo da sua vida de tomar as mais difíceis decisões (por exemplo, adquirir a casa onde hoje temos a nossa sede ou levar a cargo a reconstrução dum velho edifício e transformá-lo na casa da Ordem no Porto).
Não foi uma vida fácil, bem pelo contrário. Estou a lembrar-me de uns tantos episódios, levados a cargo por um ínfimo número de técnicos oficiais de contas que tudo fizeram (e continuam a fazer) para prejudicar (ou mesmo destruir) a obra que Domingues Azevedo nos legou.
Domingues Azevedo era um Homem Bom, com uma vontade férrea de bem fazer as coisas, dedicado inteiramente à ATOC, à Câmara dos TOC e à Ordem.
Foram 22 anos de luta permanente (1994/2016), desde o primeiro momento até que aos dias de hoje.
Pessoalmente lidei com ele muito de perto e assisti a cenas que muito relevam a sua vontade de zelar pelos interesses da associação que dirigia.
Estou a lembrar-me da tremenda luta que travou com os vendedores duma marca de fotocopiadores (foi a primeira compra de vulto levada a cabo pela ATOC), com o intuito de obter um desconto avultado. E conseguiu-o!
Diz o povo, na sua imensa sabedoria, que A VIDA CONTINUA.
Havemos de ser capazes de continuar a obra que António Domingues de Azevedo iniciou, mas não acabou, porque Deus assim o quis.
Por isso, dirigentes e dirigidos, devem continuar essa grandiosa obra que nos foi deixada, pensando sempre nas palavras de Domingues Azevedo: ”Construir, arriscar, tomar decisões.”
E se assim todos fizermos, estaremos a honrar a memória de António Domingues de Azevedo, que na revista "Contabilistas” n.º 192, de março/2016 – pág.3, nos deixou uma mensagem, quiçá a última grande mensagem, dizendo a todos os contabilistas certificados:
"Mas este não é o fim da história. É possível continuar a fazer cada vez maior a nossa profissão, porque todos merecemos que cada dia, pelas mais diferentes coisas positivas, seja um dia com significado. Um dia em que o sorriso se estampe no rosto e as palavras surjam do fundo da nossa alma como manifestação da nossa felicidade”.
É com estas palavras simples, mas de um grande significado, com elevado espírito de solidariedade, que apelo a todos, mas a todos, os contabilistas certificados que honrem a memória de António Domingues de Azevedo, contribuindo para o engrandecimento da profissão que escolheram e prosseguindo o rumo traçado por um grande HOMEM.
Com fé no futuro e esforço denodado, de certo, lá chegaremos.
Pela minha parte, despeço-me de António Domingues de Azevedo com eterna saudade dos tempos bons (e até dos menos bons) que passamos juntos, sempre na busca do melhor para a nossa (finalmente) Ordem, na certeza de que nos encontraremos mais tarde ou mais cedo no além. Então...
...Adeus, até amanhã!
Mário Portugal
Membro n.º 7
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