Évora foi o local escolhido para a realização da terceira conferência. António Lopes de Sá e Leonor Fernandes Ferreira foram os oradores de serviço, tal como tinha já sucedido em Lisboa. Perante um auditório de cerca de 150 TOC e alunos, coube ao director Jaime Santos dar o pontapé de saída, alertando os TOC para a inevitabilidade dos novos tempos: «Nada será igual. O nosso futuro, os nossos critérios e pressupostos, as nossas obrigações diárias, tudo será diferente. Estamos, enquanto Câmara, preocupados, porque muitos profissionais ainda não entenderam bem a amplitude da mudança.»
Leonor Fernandes Ferreira debruçou-se sobre o «Regulamentação contabilística e relato financeiro em Portugal» e chamou a atenção para a diferença que existe nas características entre os países de influência continental e os de influência anglo-saxónica. O que separa uns e outros? No primeiro grupo, entre outros aspectos, as normas são «muito pormenorizadas, de aplicação obrigatória, elaboradas por comissões dependentes do Governo e coincidentes com as normas fiscais.» Por outro lado, as empresas recorrem sobretudo ao «financiamento através do sector bancário, existe o predomínio de pequenas empresas familiares e o Estado é o principal utilizador da informação.» No segundo grupo de países «as normas são pouco detalhadas, de aplicação facultativa, emitidas por organizações profissionais privadas e são independentes das normas fiscais.» No que respeita às empresas existe o «predomínio de grandes sociedades anónimas, o financiamento é feito essencialmente através dos mercados de capitais e os sócios são os principais utilizadores da informação.» Diferenças que, com a adopção das NIC, tenderão a esbater-se. Depois de analisar o perfil de contabilista e da sua evolução ao longo das últimas décadas, esta professora universitária, partindo do exemplo de alguns anúncios, lembrou a multiplicidade de conhecimentos que hoje é exigida aos TOC, concluindo que a regulamentação a que está sujeita a elaboração e a publicação de informação contabilística varia em função do «sector de actividade, da dimensão, da existência de relações de participação com outras empresas e da existência de cotação em bolsa das acções.»
A segunda parte da sessão esteve entregue a António Lopes de Sá. O professor brasileiro manteve a sua toada crítica face às NIC. Evidenciando uma profunda revolta pela forma como todo o processo está a ser conduzido, Lopes de Sá afiançou que «quando falta o argumento vem a ofensa», para esclarecer que é precisamente isso que se passa com a adopção das NIC. Ou seja, «a democracia das normas é a de que podem pensar o que quiserem desde que pensem o que eu quero.» Mas Lopes de Sá foi mais longe e garantiu mesmo que «as NIC são um princípio de desobediência civil porque estão acima das leis dos diversos países.»
Preocupado com o futuro e com a imagem dos TOC, Lopes de Sá não tem dúvida de que as NIC levarão, mais tarde ou mais cedo, a que os profissionais sejam responsabilizados por fraudes gigantescas: «Somos dos poucos profissionais obrigados a errar. Vejam a bandalheira que já está aí instalada com a mais recente crise financeira e com algumas vozes a levantarem-se já a culpar os contabilistas.»
Presentes na mesa estiveram ainda Ana Fialho, em representação da Universidade de Évora e Rogério Fernandes Ferreira, a quem motivos de saúde impediram de de participar no ciclo de conferências, como tinha sido anunciado. O professor catedrático, contudo, não resistiu a usar da palavra durante breves minutos e lamentou a falta «de discussão crítica em redor das NIC. É pena, porque há muito coisa que não está bem. Temos assistido apenas a uma explanação de nomes e a comentários informativos. Nada mais.»