Opinião
Ordem nos media
Sejamos solidários
19 Janeiro 2007
Artigo de Armando Marques, vice-presidente da CTOC

                                                      

Cremos que num país que se pretende cada vez mais solidário, todo o cidadão terá de compreender o que tal significa, pelo que deverá abraçar essa causa e, obviamente, contribuir para que a igualdade de regalias e/ou benefícios seja aceite pela sociedade em geral.

Evidentemente que falar ou defender "igualdade" poderá parecer utópico, mas o certo é que os deveres de cidadania aplicam-se de igual maneira a todos os portugueses, pelo que não podem estes ser classificados em cidadãos de primeira, segunda, terceira, etc.

Vem isto a propósito das alterações que se tem vindo a verificar desde 2003, em matéria de imposto sobre o rendimento de pessoas individuais, vulgo IRS e que recentemente tem a imprensa dado imerecida cobertura às notícias contestatárias de uma classe de profissionais abrangidos, no passado, por benefícios fiscais que os portugueses em geral consideram abusivos.

Se é certo que profissões existem em que poderá considerar-se haver um desgaste humano muito rápido, tais como mineiros e pescadores, - profissões que auferem rendimentos no limiar, quantas das vezes, da miséria - já a profissão de futebolista, embora sujeita a pressão intensiva, aufere, na generalidade, rendimentos anuais que o cidadão comum não arrecada numa vida inteira de trabalho.

Ademais, é do domínio público que os nossos jogadores têm beneficiado de regalias diversas, segundo as más línguas todas elas inimigas do IRS, pelo que é chegado o tempo de ser solidário com os restantes trabalhadores e não se encurtará, por certo, a vida daqueles pelo facto de contribuírem para o orçamento do estado, em regime de igualdade com os demais cidadãos, a bem de todo o país.

E não se fale em retirar ou não competitividade ao futebol, pois isso é confundir deveres de cidadania com interesses de classes de profissionais que auferem elevados salários, pois o trabalhador por contra de outrem bem conhece o peso dos descontos no seu salário mensal tanto no que ao IRS concerne como e também nos encargos para a Segurança Social.

Deixemo-nos de nos intitular cidadãos de primeira olhando de frente para os salários que auferimos e reconheçamos que afinal devíamos dar o bom exemplo de cidadania, descontando sobre a totalidade dos salários auferidos e não reclamando situações de excepção que só demonstram que os que mais ganham são aqueles que mais regalias exigem.

Tenha o poder político a coragem de manter a legislação aplicável como está, a bem  dos deveres de cidadania e de igualdade que os portugueses há muito exigem.