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Entrevista - Irene Flunser Pimentel, historiadora
1 Abril 2024
Irene Pimentel
«Para muitas pessoas, a democracia não tem glamour. É quase uma chatice»

Especializada no estudo do Portugal contemporâneo, especialmente da PIDE
e do Estado Novo, Irene Flunser Pimentel alerta para retrocessos em conquistas
alcançadas no 25 de abril, a começar pela própria democracia. «Aos jovens falta a noção
do preço que custou a muita gente conseguir a liberdade e a democracia», defende.
No mês em que se comemoraram os 50 anos da revolução, a historiadora acrescenta que
«os populistas aproveitam todos os defeitos da democracia, potenciando-os o máximo
que podem» e anunciando uma solução, «por mais impraticável e absurda que seja.»
Para quebrar com a passividade e o comodismo instalados, lança o apelo:
«é preciso ligar a sociedade civil à corrente.»

Entrevista Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

Contabilista – «Esta é a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio, e livres habitamos a substância do tempo». Este é o poema imortalizado por Sophia de Mello Breyner Andresen sobre o 25 de abril de 1974. Que memórias guarda desse dia e do turbilhão de acontecimentos que se seguiram? Irene Flunser Pimentel
Guardo uma memória em tudo semelhante à descrita por Sophia de Mello Breyner nesse poema. A partir de 26 de abril, em diante, quase que passei a viver em levitação. Passámos a ir para a rua, discutir com as pessoas que estavam reunidas no Rossio, exigindo o fim da guerra colonial e nem mais um soldado para as ex-colónias. O 1.º de maio, dias depois, foi um autêntico referendo ao golpe de Estado militar. O ano e meio que decorreu entre o 25 de abril e o 25 de novembro durou uma eternidade. Parece que passaram 20 anos. Todos os dias mudava a correlação de forças, por exemplo, entre os militares, entre os partidos, etc. Esta fase inicial de construção da democracia foi muito tensa. Havia reivindicações de maior igualdade e fraternidade, mas ao mesmo tempo existia também um contexto de guerra fria e de muitas ideologias em confronto. 
Cada um defendia o seu espaço político. Havia muito sectarismo e intolerância perante as posições do outro.
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